Entrevista com Fatima Pissarra, a rainha da influência

Entrevista com Fatima Pissarra, a rainha da influência
12.05.2022

Fatima Pissarra, CEO da Mynd, lidera a maior agência de marketing de influência e entretenimento do País, com um dream team de 400 artistas e influenciadores

Se você segue algum artista ou grande influenciador nas redes sociais, é muito provável que eles sejam agenciados por Fatima Pissarra. À frente da Mynd, maior agência de marketing de influência do Brasil, ela lidera redes sociais e campanhas de um dream team da música e do entretenimento, com nomes tão diversos como Pabllo Vittar, Luisa Sonza, Galvão Bueno, Camilla de Lucas, Gil do Vigor e Pequena Lo – a lista é longa, com mais de 400 nomes.

Criada em 2017, a Mynd trabalha com projetos publicitários focados em música e entretenimento, além de gerir a imagem e desenvolver estratégias digitais para artistas, influencers e até para executivos. Ao lado da sócia-diretora Preta Gil e do COO Carlos Scappini, Fatima traz consigo a experiência de quem trabalhou em empresas como BCP, Claro, Terra, Nokia e VEVO, e em cinco anos reuniu uma constelação dos palcos e da internet no País.

Mas foi preciso um empurrãozinho para isso se tornar realidade. “Eu e a Preta já éramos sócias na Mynd e fui conhecendo vários artistas por fazer projetos pra Vevo. Daí um dia me ligaram dos Estados Unidos: ‘Amamos você, mas nosso contrato diz que se a Vevo fosse absorvida pelo YouTube a gente poderia encerrar o nosso contrato. Então, tchau’”, relembra. O desesperou bateu, pois a Vevo era responsável por 80% da receita da Mynd. “Mas a Preta e todo o time me deram muita força para continuar e aí começamos a focar em agenciamento”, conta a executiva curitibana, de 44 anos.

Deu certo. Em 2021, a Mynd realizou mais de 2,7 mil campanhas e ações publicitárias, com faturamento de R$ 300 milhões. Para 2022, a estimativa é de R$ 550 milhões de faturamento. E o plano é continuar em expansão.

Como é estar à frente da maior agência de marketing de influência e de entretenimento do País?

Na verdade, não foi algo que eu planejei. Vim do mercado corporativo. Trabalhei na Nokia, na Claro, no Terra, e sempre fui uma pessoa com muita curiosidade. Eu ia no financeiro e aprendia um pouquinho de finanças, ia no jurídico e entendia um pouco de contratos, ia em compras, ia na fábrica. Sempre fui bastante curiosa em conhecer o 360°. Sempre fui muito workaholic e gostei muito de inovação.

Mas como você começou a trabalhar com o agenciamento de cantores?

Quando trabalhava com a Vevo, fui conhecendo os cantores. Eu fazia muitos projetos de música e ia ouvindo as necessidades deles. O universo da música tinha um buraco muito grande em agenciamento. Os atores e apresentadores já tinham escritórios no Rio. Os influenciadores também. Mas a área de propaganda para cantores não era estruturada. Então existia um gap.

Preta Gil, sócia da Mynd, traz a visão de quem lida com milhões de seguidores todos os dias

Qual foi o grande diferencial quando vocês passaram a focar no agenciamento?

Eu fiz essa migração pensando sempre que eu era um varejista, sabe? Uma empresa que vendia produtos e que, no caso, esses produtos eram pessoas. Eu precisava que o coração da empresa fosse a área comercial, porque o coração da Unilever ou de uma P&G é a área comercial. Então segui esse modelo: são pessoas, mas são produtos. Hoje a nossa área comercial tem 45 pessoas. Nenhuma empresa de influência tem 45 pessoas no comercial.

Como os influenciadores entraram nessa prateleira de produtos?

Música começou a girar muito. Um dia, a Preta falou: “Fatima, por que a gente não trabalha com influenciadores?”. Foi quando demos esse passo para o entretenimento porque íamos lançar uma música ou fazer uma campanha de uma marca com música e pediam para divulgarmos com influenciadores. E os influenciadores nos pediam para agenciá-los. Daí começamos essa evolução para o entretenimento.

O que um influenciador precisa ser ou fazer para se destacar?

Para se destacar é realmente ter audiência, ir crescendo, fazer um conteúdo legal. Hoje o mundo está migrando para um formato de menos hipernúmeros e mais endosso. Claro que há campanhas nas quais os números são importantes. Porém, com a pandemia, teve muita marca entrando no digital, que às vezes fala de um assunto específico. E os influenciadores nichados estão crescendo muito. Ficamos de olho em tudo isso. Estamos sempre pesquisando.

O que é preciso para entrar na Mynd?

Eu sempre falo que alguém da empresa, seja eu ou os diretores artísticos, tem que se apaixonar por você. Olhar o conteúdo e falar: “cara, essa pessoa é muito incrível, me impactou”. Vi o conteúdo de vários agenciados, amei e chamei para conversarmos. É claro que também temos uma rede de pessoas que mandam nomes. Porém, o mais importante é o criador de conteúdo tratar aquilo como o seu trabalho e com a sua verdade. Não é entrar nessa para ficar rico. Não. É a verdade que nos captura.

Cada semana alguém novo viraliza. Tem espaço na internet para tantos influenciadores?

Tem sim, com certeza. Principalmente para os influenciadores nichados. Na gastronomia, por exemplo, não há muitos influenciadores com mais de um 1 milhão de seguidores. Ou seja, tem espaço. E, aí existem 500 mil segmentos que não têm ninguém. Empreendedorismo, finanças e do it yourself têm poucas pessoas. Tem espaço para muita gente crescer e se desenvolver.

E para as empresas e marcas, qual é a receita?

A receita é pesquisar. Abrir a cabeça para o novo, perguntar pros filhos o que eles estão assistindo. Não prejulgar. Entender que o mundo está andando e evoluindo. As empresas precisam ter a cabeça aberta para o que está vindo, porque hoje não tem mais como trabalhar só televisão. Tem que integrar tudo, se integrar ao conteúdo do influenciador.

Por que diversidade é um dos pilares da Mynd?

Somos, com certeza, a empresa mais diversa do mercado. Quando eu montei a Mynd em 2017, tomamos a decisão de ter 50% de pessoas pretas na equipe. Ou seja, ser uma empresa diversa de verdade. Eu queria que o nosso olhar fosse um retrato do Brasil real. Muitas vezes sentíamos isso nas agências: cinco pessoas brancas, padrão, decidindo uma campanha de um produto que às vezes vendia mais na Bahia. E não tinha um baiano, não tinha um nordestino! Então trouxemos pessoas para ter um retrato desse Brasil real.

Houve alguma resistência do mercado?

Vimos muitas pessoas falando que não encontravam bons profissionais. Mas eu procuro e eu encontro um monte de gente preta qualificada. O que eu acho é que ninguém procura. Não é difícil, só que tem que ter determinação. E quando a gente faz essa transformação, muita coisa é desencadeada a partir disso. É importante todo mundo se ver em uma campanha. Aí é a questão de raça, de gênero, de pessoas com deficiência. É assim que transformamos o mundo.

Com certeza, isso se reflete no squad da Mynd, que é super diversificado. Mas vocês encontraram ou ainda encontram barreiras por parte das marcas?

Muito, muito, muito. A gente está falando de um país ultra-racista, ultra- homofóbico. Então muitas marcas têm medo de pisar nesse “território”. Mas não existe um território. Todo mundo é pessoa, não é? O território de cabelo é para quem tem cabelo. Você tem que refletir a sociedade para que todo mundo se veja representado e compre esse produto. Ter regionalidade, diversidade de raça, de gênero, de pessoas com deficiência, para que todo mundo possa se sentir representado.

Como a Mynd trouxe esse novo produto de agenciar executivos?

Quando três pessoas me falam que não acham uma coisa para comprar, eu boto pra vender (risos). Sempre cuidamos das redes sociais de artistas como a Luiza Sonza (28 milhões de seguidores no Instagram), o Gil do Vigor (15 milhões), a Camilla de Lucas (10 milhões). E, por conta disso, recebemos muito treinamento. Então, temos um conhecimento muito grande do que rende.

E isso também pode ser aplicado a executivos…

Exato. E como eu vim do mundo corporativo, algumas amigas me pediam ajuda para cuidar do Instagram delas. Hoje em dia, se uma pessoa quer te avaliar, a primeira coisa que ela faz é entrar no seu Instagram. Aí ouvi várias pessoas falando “não sei o que fazer, não tem ninguém que me ajude com isso” e a gente sabe fazer isso! Então começamos a auxiliar os executivos que querem se tornar uma marca nas redes sociais.

É mais difícil cuidar de tantos artistas e influenciadores ou ser mãe de gêmeos?

Com certeza é mais difícil cuidar de artistas! (risos) Os meus filhos são fáceis, porque sou eu que mando (risos). Mas admiro demais quem é artista, sabe? Deve ser difícil acordar com hater, com alguém inventando mentiras. Desde quando tive a minha filha, hoje com 14 anos, procurei integrar meus filhos à minha vida. Eu tenho gêmeos de 7 anos, homem e mulher, então é mais difícil ainda. E eu quero que eles tenham esse exemplo de mãe que sempre foi muito feliz trabalhando.

Você entrou na internet “quando tudo era mato” e hoje estamos na era do Streaming. O que vo

Camilla de Lucas é uma dos 400 artistas agenciados pela empresa

cê espera do futuro do digital?

Comecei na internet na Universidade de Santa Catarina, entre 1995 e 1999, que era beta tester de internet. Então, eu sou realmente uma das pessoas mais antigas na internet no País. Lembro que estava todo mundo em uma sala na universidade quando vimos a primeira foto sendo aberta em um computador. Depois que passa por tudo isso, você se pergunta: “gente, o que mais vai vir?” Acho que o que vai vir será muito rápido. Cada vez menos barreiras, menos fronteiras. Cada vez mais acessos, possibilidades. O Brasil é um país que ainda pode avançar muito em inclusão digital.

A ideia é continuar em expansão?

Queremos sempre expandir a Mynd. O universo digital está sempre em expansão, não tem como a gente parar. Está vindo muito influenciador de nicho, então não tenho como ficar só com gente gigante. Agora está vindo toda essa parte de metaverso, NFTs, e a gente já está desenvolvendo projetos em cima disso.De repente vem uma plataforma nova. A gente está sempre evoluindo. Estamos bem longe de estacionar.

Mynd em números

5 anos
de existência

R$ 300 milhões
de faturamento em 2021

mais de 2.700
campanhas e ações publicitárias em 2021

R$ 550 milhões
de estimativa de faturamento em 2022

por Felipe Seffrin | Fotos Marcos Duarte e Divulgação


Este artigo foi originalmente publicado pela/o REVISTA AZUL no dia 12/05/2022, conforme link: revistaazul.voeazul.com.br